Outro dia desses recebi um e-mail que falava algo sobre amigos para cada ocasião. Tenho amigos que freqüentam os mais diversos tipos de ambientes e têm pensamentos bem distintos sobre muitas coisas. Parafraseando esse e-mail, tentei traçar uma classificação (já que eu sou o mestre dos rótulos e preconceitos) dos meus grupos específicos de amigos. O que não quer dizer que a segmentação descrita abaixo não possa se aplicar à realidade de nossos diletos e queridos leitores (as).
AMIGOS DE BALADA: Ao contrário do que muito se ouve por aí, considero os amigos de baladas os melhores amigos – com algumas exceções, é claro. É só parar para ver. E não é porque eles me acompanham nas aventuras noturnas e outros não. Simplesmente, é porque é na calada da noite que tudo acontece. É ali que o seu turbilhão de emoções, boas ou ruins, se aflora. As expectativas em torno de uma moça aumentam ou diminuem. Um jogo é virado. Um filme é queimado. Uma história tresloucada é presenciada. Ou você a protagoniza. E ele está ali, do seu lado. Testemunha ocular da história. Na balada, cumplicidades se formam. E amizades se reforçam.
AMIGOS RESTRITOS: São amigos com os quais, por um motivo ou por outro, você não consegue conversar sobre assuntos muito diferentes. Não são amigos na acepção da palavra – e não é porque vocês não se gostem, pelo contrário. Mas, por mais que tentem, a pouca intimidade ainda não deixou outros papos rolarem de forma natural. São monotemáticos. Tenho uma amiga que só fala comigo sobre festas e cursos no exterior. Outro só me pergunta como vai o meu trabalho na editoria de esportes. Outro acha que eu voltei da Austrália ontem e sempre me pergunta como foi a viagem (“conte tudo? Curtiu?”). Outro diz que eu ando sumido e que vai marcar um chop. Só diz. Não marca.
* AMIGOS (SÓ) DE FUTEBOL: A subcategoria mais interessante do item acima. Esses são clássicos. E específicos para uma ocasião, normalmente uma mesa de bar. Fora dela, não existem. Você deve conhecer um desses brothers que é capaz de debater com você por mais de dez horas relembrando o gol que o Careca fez aos 13 minutos da prorrogação na final do Brasileirão de 1986. Ou a Banguela Convexa do Tiradentes de Dadá Maravilha que ganhou do Corinthians na Copa do Brasil (tudo bem, depois levou uma chulapada lá em Sampa, mas isso não importa). Ou qualquer outra história que remeta ao esporte bretão. Ele é sempre bem informado e letrado no assunto. Agora, experimenta mudar de tema. Ouse falar de música, política, cinema, religião. O cara que há 5 minutos impunha sua opinião aos berros, que era o centro das atenções e mostrava personalidade forte agora simplesmente sumiu. Virou rato. Ele fica sem chão. Castelinho de areia.
AMIGO MURO DAS LAMENTAÇÕES: São verdadeiros párias. Estes caras seguram suas maiores crises amorosas. Quando você está com o coração despedaçado, ele é o primeiro a se preocupar em ouvir, pacientemente, todas as variações e interpretações dos últimos diálogos que você teve com a sujeitinha que te deixou mais sem dignidade que um pote de estrume arrebentado, mijado e varrido no meio da rodoviária. Ao contrário de outros amigos mais impacientes, estes seguram a sua onda e até gostam daquela cena de novela. No fundo, eles esperam o mesmo tratamento quando estiverem com dor de cotovelo.
AMIGOS CULTS: Já fui mais identificado com estes um dia. Hoje nem tanto. São aqueles amigos cheios de cultura e informação acerca de tudo o que rola no universo cinematográfico, literário e musical. Estão sempre na vanguarda da efervescente produção cultural mundial. Alternativa, diga-se de passagem. O problema deles é, como descreveu magistralmente o Zethi no texto anterior, a patrulha. Debocham demais. O que soaria como brincadeira num primeiro momento depois se revela um enorme preconceito. E agressão. E segregação com quem não tem a mesma vontade de ver, ouvir e ler as mesmas coisas que eles. Não riem de nada que possa soar engraçado para uma pessoa “sem cultura”. Não se permitem esses deslizes. Contudo, se bem domados, os amigos cults são uma eterna fonte de consulta para assuntos intelectuais. Merecem ser respeitados. Só não os chame para as mesmas baladas que você. Vai rolar polícia musical. Melhor preservar a amizade.
AMIGOS RABUJENTOS: Nossa, esse é o carma de todos nós. Pior é que a gente gosta tanto do sujeito que releva as chatices dele. É o cara que desde que você se entende por gente reclama do ambiente de trabalho. É o cara que nunca tá feliz na balada (“tem muito homem”, “a música tá chata demais”, “não posso fumar aqui”, “tem muita fumaça”, “é caro demais”). É o verdadeiro Zé Buscapé. Mas, de tanto que você conhece o cara, leva aquilo na boa. Ele já é motivo de piada. Mas é péssima companhia para um ambiente alegre ou uma balada divertida. Ele vai estragar a noite dele e a sua. Não misture.
AMIGOS DE ORKUT OU COLEGUINHAS DE TRABALHO: Não são amigos. Conhecidos, talvez. Caras que te adicionaram no Orkut e, depois que você explodiu sua conta, nunca mais deram notícias ou perguntaram de você. Só lembravam do seu aniversário porque você tinha Orkut. São ainda sujeitos que trabalharam com você um tempão e até batiam papo contigo nas horas vagas. Mas foi você mudar de emprego (ou ele) e a criatura desapareceu. Não fazem falta na sua vida.
AMIGO SEM PRAZO DE VALIDADE: Não importa se você está há dez anos sem conversar ou ter notícias do cara. Não importa se ele mora na Austrália, em Nova York, em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte ou no Chile. Sempre que se encontram, se ligam ou trocam e-mails, a cumplicidade é total. As conversas não têm restrições temáticas. A diversão é eternamente garantida. Tenha sempre um desses por perto. Ou por longe. O efeito é o mesmo.
POR FIM, OS MELHORES AMIGOS: Esta categoria, na verdade, engloba aqueles com características citadas em quase todas as classificações anteriores. Os melhores amigos são os caras que seguram a tua onda, que falam de futebol horas a fio, que falam sério, que discutem qualquer coisa, que se divertem com você, que reclamam quando você está sendo chato.
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