quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Entre o machão e o sensível: para um novo tipo de homem

homem sensível
Você é um romântico sem pegada ou um Chuck Norris tentando entender poesia?
Mais do que estereótipos, “machão” e “sensível” são duas posturas extremas diante da energia feminina. Alguns tendem à primeira, outros não sabem como ir além da segunda. Haveria um modo de integrar o melhor dos dois mundos? Será que existe algum homem capaz de conversar sobre o Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes, sem deixar de meter porrada em quem mexer com sua mulher?
Os dois comportamentos não são mentais. Chuck Norris ou Zach Braff (mais pelos filmes do que pela série Scrubs) apresentam posições corporais diferentes. O contraste não se encontra tanto no que eles pensam quanto no posicionamento que eles assumem na relação com mulheres, artes, elementos da natureza, formas e brilhos.
Com uma mulher ou com uma música à frente, o machão se distancia, vigia, resmunga. A música toca, ele fica estático e tira sarro. Deseja controle sobre o feminino. Sua lógica é a da posse. Todos os fenômenos são capturados, analisados, conquistados. No oceano do feminino, o homem machão busca dinheiro, carros, poder, fama, mulheres. A meta é conseguir o máximo possível de objetos, na esperança de enfim suprir o vazio de um corpo sem energia vital. Por evitar o contato direto com o feminino (interno e externo), ele age violentamente. É uma questão de sobrevivência: para inflar seu corpo de vida, ele agride, machuca, tira sangue da natureza, da sociedade, de sua mulher…
A lógica do homem sensível é a do ser. Em um universo de movimentos radiantes, ele se deixa envolver, se aproxima, sorri, chora. A música toca, ele vai junto e dança. O sensível busca desenvolvimento intelectual e emocional. Ao oferecer seu feminino, porém, ele corre o risco de ser rejeitado: energia feminina é o que as mulheres já têm. Quando isso acontece, assim que vê nela o que pensava ser dele, ele se sente roubado, fraco, apavorado. À medida que se equipara à luminosidade externa, começam a surgir medos, inseguranças e expectativas. Não existe homem sensível que nunca se sentiu impotente e dominado. Ou pior: ele vem com o feminino, ela incorpora o masculino e o humilha. O processo de identificação com os fenômenos retira seu poder e muitas vezes o deixa refém do que lhe acontece. Não é raro ver homens surtando por questões mínimas…

Como aprender com o machão

O aspecto saudável do machão é o desenvolvimento da presença. O mundo se desespera e colapsa, ele permanece imóvel. Sua mulher grita e esperneia, ele fica. Um exemplo de liberdade também. Por não se identificar com o feminino, é capaz de cortar e desbravar. Por não se distrair, ele passa anos meditando, testando vacinas, produzindo chips, vencendo corridas. Seu arquétipo é o do herói, guerreiro ou samurai, que abandona a cidade natal, segue sua missão e volta trazendo troféus, remédios, conhecimentos. Para o sensível, o machão é o antídoto da indecisão. É encarnando essa postura rígida que ele retomará o poder sobre sua vida.

Como aprender com o sensível

No outro extremo, a qualidade positiva do homem sensível é o cultivo de uma profundidade sem limites. Ele é capaz de se comunicar em qualquer linguagem, se envolver com todas as danças, se emocionar com o amplo espectro das histórias humanas. Sua habilidade é movimentar energias, substâncias, ventos, sons… Manipular tudo o que se move. Seu arquétipo é o do xamã, bruxo ou mago, que se entrega ao universo para poder falar a língua dos animais. Ele sente a dor de todos os seres e por isso pode agir por dentro do mundo, restaurar tecidos, curar. Para o machão, o sensível é o antídoto da violência. Ele ensina que, para evitar o estupro, é preciso ser invadido pelo feminino antes de penetrar uma mulher.

Rumo a uma nova espécie de homem

Em uma abordagem preliminar, poderíamos sugerir que os homens sensíveis treinassem a postura do machão. Não é uma má idéia começar a investir na bolsa, beber pinga, bater o copo na mesa, ficar calado e ser grosso, aprender boxe, PHP, jogar rugby. Já os homens brutos experimentariam a atitude do sensível. Seria engraçado vê-los assistir a filmes iranianos, recitar Rilke, dançar sapateado, freqüentar cursos de culinária tailandesa, vinhos, teatro clown!
Tal processo mimético, no entanto, é apenas um caminho grosseiro de transformação. Uma abordagem mais sofisticada poderia apostar na própria fonte dos problemas. Ou seja, se você é machão, vá até o fim; se é sensível, explore seus limites. A postura desafiadora do machão esmagará todas as metas medíocres até que reste apenas um objetivo transcendental, a missão do herói. O sensível também. Com sua docilidade, se conectará com tudo e com todos, para enfim entender o código da Matrix e virar xamã.
Ninguém pode prever os resultados da união do herói com o xamã. O fato é que sozinhos eles são impotentes diante de uma única mulher. Sem sensibilidade, o direcionamento do machão é cego: ele a leva para jantar em um restaurante que ela já disse odiar mas ele esqueceu. Sem direcionamento, a sensibilidade também não resolve: ele sabe qual o restaurante dos sonhos, mas não tem dinheiro ou coragem para levá-la.
A flexibilidade do sensível facilmente se deixa dominar. A rigidez do machão obstrui a livre manifestação dos encantos femininos. Nenhum dos dois é capaz de conduzir sua dama. Um trava, outro solta demais. Um tira a liberdade, outro não oferece segurança. Com nenhum dos dois ela consegue girar! A condução exige o melhor de ambos: abertura e sensibilidade com vigor e direcionamento, presença imóvel com profundidade nômade.
Praticar a postura que conduz exige o fim da oposição proposta nesse texto. Suspendemos o embate, a integração começa. Retire o “X” da imagem acima… Ali está Mr. George Clooney, junto com mais dois exemplos de homens da nova geração.
A nós homens, só resta continuar aprendendo com o velho Chuck. Você já decorou pelo menos uma das verdades do Chuck Norris? Está na hora de aplicá-las na vida… Quem disse que Chuck Norris não é o primeiro dos machões românticos?
No dia dos namorados, Chuck Norris dá para a sua mulher o coração ainda batendo de um de seus inimigos. Para ser mais romântico, Chuck Norris acredita que todo dia é dia dos namorados

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