sábado, 3 de setembro de 2011

NOSSOS CARROS NOS ENTENDEM

Sejamos francos: os carros dão a nossos impulsos primitivos uma espada de 1 800 kg. Uma pesquisa do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) mostrou que apenas 11% dos condutores envolvidos em acidentes de trânsito com vítimas, ocorridos entre os anos de 2004 e 2007, eram mulheres. Seja em um semáforo da Avenida Brasil, em São Paulo, seja no circuito de Interlagos, o automóvel tem nos permitido dar vazão a nossos antigos impulsos de gladiadores. Esta é uma grande diferença entre o homem e a mulher. (Sim, as mulheres também dirigem, e algumas correm bem, mas, tirando exceções como Danica Patrick, elas não costumam expressar agressividade com máquinas de quatro rodas.) E aqui está o problema que nenhuma legislação de segurança no mundo consegue remediar: correr é gostoso. É divertido para valer. Os carros são o primeiro e mais popular esporte radical da sociedade industrializada.
Mas o que está por trás da tremenda intimidade entre nós e a velocidade, entre homens e carros? Bem, os homens não são simplesmente donos – eles têm um relacionamento com o carro. Uma análise publicada em julho de 2009 em Psychology of Men & Masculinity observa que os homens têm mais dificuldade em identificar e verbalizar emoções. Isso se chama alexitimia. Em outras palavras, do ponto de vista psicológico, somos uma espécie de paspalhos emocionais com a língua meio presa. A beleza de todas as máquinas, mas particularmente dos automóveis, é que elas não exigem inteligência emocional. Os automóveis são racionais e finitos. São sistemas ordenados feitos de aço, fogo e eletricidade. Os carros permitem que os homens desliguem seu hemisfério cerebral direito, normalmente inferior e inconveniente. Não importa se é um garoto de 20 anos instalando um turbo em um Gol ou um velhote polindo seu Maverick, o homem saboreia o processo mais do que os resultados, as horas de tranquilidade com objetivo, quando o que se tem é um parafuso, uma ferramenta e um trabalho a ser feito. Além do mais, os automóveis põem nossa cabeça em ordem. Você pode deixar um carro tinindo, perfeito. O mundo é um lugar bagunçado, cheio de entropia e desordem. Nossos camaradas humanos são, de muitas formas, criaturas fracassadas que inevitavelmente falham. Os homens tendem a buscar saídas para impor ordem, perfeição – colecionando selos, organizando suas bibliotecas particulares, montando navios em garrafas. O automóvel, recebendo doses suficientes de cera, óleo, cromação e pintura, pode ser elevado a um estado imaculado… até virginal, se você preferir. Se a felicidade é a culminação de muitos sucessos, trabalhar em um automóvel é uma empreitada que gera bênçãos inigualáveis.

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